Textos de Alberto Moreira Ferreira
Caríssima espécie de gato aí no espelho, esférico, 
para que precisas tu de ser amado! Espelho., não
sabes do que falo! O que sabes tu do amor! Nada
sabes do amor! Fugiu ou foste tu que o mataste! 
Saberás certamente do amor que nos corrompe,
do secreto desejo da esfera, da obstinação, que, 
tudo seca! Saberás da vida entre a morte e o desejo!
Garantirias a inocência do amor, poderias tu dar ao
amor a liberdade ou aprisioná-lo-ias pela vaidade,
pelo poder, por toda essa força advinda do ser amado,
corrompido pelo egoísmo, próprio do espelho cara sombra
de pedra feita por esta terra de deus insensível armado dos 
pés aos dentes! Então, caro espelho! Não pensarás que o 
amor é um espelho! Pois não! Também não será a tristeza 
desse esquecimento a que o amor é submetido, sobretudo 
por todos os que amam a mania, sob as vicissitudes do que
um homem é feito - um homem sempre foi feito - enfim,
desde a nascença, pela avidez, quase sempre de fugida -
pelo poder orgulho vaidade, por tanto nascido com defeito,
como ramos mortos secadores de árvores, como o momento
desta acesa conversa monolingual, francamente, tristonha. 
Não compreendes caro espelho, tu nada sabes sobre magia,
não obstante a desmedida tristeza, será porque somos amados
e nos encontramos sozinhos em conversação num dos cantos
desta terra de amor e amores e de um autismo
colonizador, governamental,
feita pelo homem à sua imagem não contemplando o amor 
,mas, 
o cão silencioso, o armador, a arma na gaveta, pelo medo da
alegria viva morta pela mão que não pensou equacionou… 
e tudo isto tem tanto de furto, abafo, escamoteio, empalmação. 
Oh, caro espelho, para que precisa um espelho de um espelho 
e a terra de um novo lar! Está bem, o amor é também e tão bem 
resistência, e mais, muito mais que o narciso
aí no espelho, amar é um sentimento considerável meu caro,
e,
a vida… o coração pode ser um bom lugar

"Esterco"