Tu dás as costas
Não as voltas
Tu honras não foges
Tu cuidas
Não abandonas, aguentas
E trazes a razão
Tu respeitas
Não perpetuas a serpente
Tu não me deixas sozinho como os outros
Se numa palavra pudesse fazer um mundo bonito; Diria: Amor. Diz-me, quantas facas tenho cravadas nas costas sem nenhuma recompensa, sem me enganar, sem lhe acrescentares mais sangue por contas, seja como for, eu direi, eu não sou uma vítima, sou um vivente neste mundo enfermo que os homens fazem dia a dia noite após... noite. Diz-me, diz-me com verdade, pois nada choca um morto, e nada detém um espírito vivo, de liberdade.
Assim que idearam a laranja, criaram o detentor da suma perfeição, o óbelo, o círculo tornou-se quadrado e o plasma nada pode fazer para desviar os comboios do caos de plástico bolha do céu individualista em fogo de artifício. Ainda perguntei aonde era a farmácia e no café alguém disse: olhe que está à bicha.
Mais um dia, mais um fogo preso na cidade, na solitária, num lugar do mundo, apeado numa estação da idade, e da circunstância abastadamente justa para não conseguires desatar o nó, mesmo com toda a imaginação bondade e vontade possíveis, e ninguém da multidão se aproxima, com sorte ouves responder ao cumprimento, ninguém te descobre esmorecendo, sequer tens alguém neste triste mundo para te procurar, neste triste mundo de estátuas numeradas de fabrico em série de mãos nos bolsos olhando para o chão de onde imerge a imagem de seriedade de um ladrão, como se já estivesses morto, antes mesmo dela chegar. Podes converter-te a um deus esquecido da humanidade, e não me digas; não me venhas dizer que a esperança está no próximo copo.
Está um dia bonito. As gaivotas no escritório, os pássaros arrumados em gaiolas, e o bêbado sozinho na sua casa limpa e arrumada pensando que falhou onde todos acertaram. Esta terra parece que morreu e vive morta sem saber. Se soubesse onde fica o carnaval ia ao carnaval enlouquecer, mas de fato, a arder, sou tão esquecido quanto esta terra, vivo morto sem saber.
Está tudo errado, a sabedoria não é sábia porque é tendenciosa, e a verdadeira, a que se despe, a que se despoja, nunca foi praticada à escala plural. Não há amor nos corações das nossas sociedades, há desejo cobiça fome, inveja, sobretudo ganância, há egos inflacionados, vaidade saloia. Não há qualquer moral nos números de braços armados duma economia selvagem como não há humanismo numa sociedade economica, num mundo oportunístico. Eu amo-te muito meu amor e perdoa-me ser defeituoso.
Mais uma semana de trabalho para uns e trabalhos para outros. Para mim por força da circunstância quase habituado à malandrice será mais uma semana na fábrica da luta contra a solidão. Vou ter momentos de brilho, de sombras, e em todos gostaria de me segurar, é o que costumo fazer, só não me seguro no ar puro do amor, aí sou todo coração aberto, tão rebelde que me esqueço de mim. Mas a vida também é liberdade, loucura, e ternura do coração.
A chuva sai pelo telhado, mas pelo fato de não ter interesse e ninguém… não tem importância. Será da idade, do nome da rua, talvez, de todos os feriados da vida. Ficarão então os néons, o porto aberto, um pedaço de inocência, as notas perdidas no quarto, os delimites, de nada, dispenso a escada, a rosa morta no armário, e a carta por abrir.
"Da Terra e dos Últimos"
Naturalmente esqueceram-se de mim na terra. Eu sou o pior de todos, o mais temível criminoso, o mais apurado sanguinário, cruel assassino, o mais injusto e indelicado, o maior ladrão, enganador dos deserdados, uma besta que tudo despreza, não tenho compaixão, não sinto empatia, sou o monstro mais horrível dos nossos dias, a verdade seja dita, o mais violento, campeão dos malandros, e é, portanto, compreensível a falta da humanidade, as falhas de memória, e é legitimo desembarcar já esta noite no último crime. Ó meu amor, tudo isto é verdade, e a tranquilidade, aportou na minha doce cama cansada de me ver cansado, por tudo arrumado, com vontade de dormir. Sou um bom convencido! Se assim fosse, meu amor, lembrar-se-iam de mim.
"Passadeira Indiana"
Será da idade, talvez, e do amor à vida, por estranhíssimo que se sinta no mundo, num mundo, que já mal conhece, do qual outrora foi parte e hoje à parte, num momento invisível indizível apesar das medidas aumentadas, algo que nos devia incomodar, por oposto à dimensão da ingenuidade pura espinhosa da beleza, que aos seus olhos caiu, motivo pelo qual me permito continuar a observar por onde andamos a deambular, por todos os mundos concebidos, que te desejam no chão quando precisas levantar. Este é o tempo da Anita, Anita na Cama, Anita no Campo, Anita de Férias Anita na Praia Anita Pendurada, no ar no chão. Pois, caro pois, não sei se será da idade, e do amor à vida, jamais poria a hipótese de me suicidar.
Este é dos mundos que não têm mundos declarados culpados. E da inocência resta-lhe os contornos da imaginação onde se deixa dormir sem paradeiro ou lugar entre a multidão, por muito que queira conhecer o amor, essa fantasia que pintam como se fosse a luz da manhã para amanhã. Este é dos que não têm manhãs e ante a escureza da tarde à noite pinta a luz da vida para outro dia, mas também gosta de se levantar cedo e não ir a lado nenhum.
As estátuas amam o imóvel, o reportório é sempre o mesmo, os sagrados amam as nossas fraquezas fragilidades e todos os seus domínios. Eu amo uma mulher de carne osso alma e coração, e, não ter medo de amar é demasiado arriscado, mas não amar seria de uma inutilidade, profundamente estéril, tal como amar sem retribuição, por pequena que seja, ou o amador acabaria vítima da frustração, mas mais grave é quando não podemos ou não devemos amar e amamos à distancia. Também amo a linha reta a liberdade e a natureza, e estas, devolvem-me sempre um círculo do chão.