Textos de Alberto Moreira Ferreira
E eu pensava que era feliz naquele colchão de aço inox e mãos azuis onde os peixes se afogavam e os barcos abraçavam as ondas de areia, e mais, as noites costumeiras com sabores de cal e papel de metal bombeavam espuma à vela arrastadas pelos ventos até que a água germinava sombras que me tomavam desgastando o céu dia a dia de onde chovia sulfúrico do seu choro embranquecendo o sol quieto perdendo o esmalte no seu bloqueio no auge do isolamento até que, uma lua estranha de mel pintou o mar inteiro amarelo ao acordar, o mar de marés calmas que esperam, cidades imensas dos seus afetos com janelas que fecham para abrir onde eu sou agora realmente feliz. Não fora a grandiosidade da sua asa e cá não estaria a pensar: nunca mais vi mãos azuis, aqui sim, as árvores crescem os dias crescem, os pêssegos não têm caroços e eu sou de fato feliz.